segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ficou...


Ficou surda, cega, muda, intacta.
Não tinha mais o mesmo gosto. Deixou pra trás.
Sentia medo de tudo que parecia tão inovador, desconhecido.
Foi mergulhar em águas escuras de onde não se vê o fim.
Toda a sensação de conforto e segurança escoou, como água por debaixo da porta.
De repente as coisas foram acontecendo e nem se deu conta de nada. Podia tudo passar por ela que nem veria.
Viu somente depois, quando já havia perdido o rumo, e aí sentiu-se perdida. Tão perdida que certas coisas já nem faziam mais sentido.
Desejou abandonar tudo e todos.
Desejou fugir.
Desejou esconder-se.
Mas não havia como se esconder de si mesma.
Sentia-se sozinha. Estava desamparada. De repente quando se deu conta tudo parecia ter fugido do controle. Mas não de uma forma boa, de quando a gente se perde sem rumo pra tentar se descobrir, mas as coisas pareciam deformes, caminhando pro lado contrário do que desejava.
Lembrou de sensações do passado. Coisas que lhe traziam familiaridade. Não sentia-se bem. Não sentia-se infeliz, mas triste, um tanto insatisfeita.
Sentia falta de enlouquecer-se de pensamentos e discussões sobre suas maluquices e confusões.
Precisava de algo maior do que tudo que podia alcançar. De certos motivos que há muito tempo não tinha.
Parecia não pertencer a lugar algum, não possuir um destino ou qualquer coisa que o valha. Era como se nada mais fizesse um real sentido. Como se não se reconhecesse mais nos seus atos, sentimentos e confusões.
E a vontade era, talvez, simplesmente de sair correndo. Correndo pra tão longe que não pudesse mais encontrar nada que tivesse deixado pra trás.
Não via mais pessoas das quais sentia saudade. Não via nas próprias pessoas que conhecia aquelas pessoas que um dia elas foram. Sentia saudade. Simplesmente saudade. Saudade de tudo aquilo que um dia tinha sido. Saudade de sentir.
Agora tudo era tão conturbado que não parava mais pra ouvir a beleza da vida. Não parava pra enxergar o que de tão bonito tinha ao redor. E às vezes não reagia mais.
Muitas vezes deixou-se vencer pelo cansaço e ficou por isso mesmo.
E saber de tudo isso é o que a deixava pior.
Mas por alguns momentos preferiu ficar assim, intacta. Imóvel.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Logo


Logo ele volta pro seu devaneio de todo dia.
Não importa quem. Apenas ter alguém.
Alguém pros seus delírios, pro seu show particular. Alguém que o observe e faça platéia.
Alguém a quem ele possa despachar o seu íntimo vulgar. A sua solidão desconfortada.
O seu desejo de fuga transtornado.
Deixa-se levar por qualquer que o faça sentir-se o centro. Por qualquer um que o tente desfazê-lo, sabendo que não quer transformar.
Desgoverna-se então por um pouco que seja. Pra no final voltar a sua procura e o seu estado de sempre.
Gosta de situações. Gosta de possuir, mas não de ter realmente. Jamais de sentir.
E logo voltamos pro mesmo lugar. Ao mesmo ponto zero, que não necessariamente, é o ponto de partida.
Tudo volta a si, mesmo quando é diferente. Mesmo com outro ambiente, outro lugar, outras pessoas.
O ser ainda é o mesmo.

Voltamos ao prazer minúsculo do ser. A satisfação de si próprio. Ao seu mundinho particular. O seu gosto por se fazer de outra pessoa. Sua máscara que esconde a feiúra e a beleza de seu espírito, e o medo daquele menino que não soube crescer.

sábado, 1 de maio de 2010


Rodopiou. Rodopiou-se ao vento, ao ritmo lento de quem quer cair nos ares. Deixou-se levar pelo que arrasta. Seus pés lentos ao som da música. Da sua música. A brisa e o leve toque. O toque suave.
O toque da música, do vento, do tempo.
O toque da pele.
O embalar dançante. O sonhar constante. O viver o bastante, o sorriso estonteante. O Flash marcante.
Momentos. Pedaços de vida. Todos, jogados pro ar. Não como se pudessem ser apagados, mas como se fossem apenas lembranças. Coisas das quais não viveu.
E o forte vento podia soprá-las no meu ouvido.
Enquanto continuava a rodopiar. A calar qualquer outra reação que não fosse o deslumbramento diante de tamanha beleza.
Eram luzes mais radiantes. Era um contentamento sem explicação. Era encanto. Paixão. Paixão do ser, do estar, do fazer.
Rodopia, embala. Me inspira a ser o que sou. Me chama pra ser o que eu sei que já não sou há muito tempo.
Traz aquele algo mais que não se acha quando se procura. Aquilo que faz-me sentir o que sei que não se pode explicar.
Mostra aquilo tudo que eu sei que você sabe que eu sinto.
Pára. Sente. Sente como se sente, como me sinto, como se mostra esse ser, essa vida toda.
Voa alto. Agora pode, pode tudo. Voa lento, voa no embalo do sentir.
Voa no rodopiar incansável de tua natureza. No envolver do teu brilho que não segue o destino.
Faz-me perder a noção daquilo que mais me apavora e me causa maior prazer de sentir.
Mas me trás aquela sensação de novo, me trás aquele sentido que não encontro se procurar pela razão.