domingo, 26 de outubro de 2008

ILUSÃO




De repente percebeu que esteve cara a cara com a realidade, mais fria e cruel possível. Algo morreu dentro dela, despertou uma angústia incapaz de ser contida. Certas ilusões foram destruídas depois daquele episódio. Foi-lhe provado. Foi um instante breve, o corpo excitava-se por inteiro, era um estado de desespero. Era chegar perto de mais da desilusão.
Agora, ele não está mais aqui. Tão perto e tão longe. Tão ilusório e real. Um amor inexplicável. Saber que ele partiu.
E voltará? Será que um dia voltará a vê-lo? Será que um dia poderá dizer-lhe? Será que um dia poderá compreender sua forma de amar? Uma forma tão majestosa e intensa. Capaz de mudar concepções, princípios. Doce ilusão. Um amor diferente. Que, não por isso, deixa de ser amor.
É escolher viver na solidão, é não querer acordar de um mundo criado ao seu modo, ao modo como desejaria que fosse, o modo como cria suas próprias histórias, mudando os fatos à maneira que sonha.
Uma vida que foi destruída pela prova mais concreta de que ele existe, e não pode ser moldado à maneira que sonha, para encaixar-se na vida criada a partir dos seus pensamentos. E dar-se conta disso é o que torna tudo tão depressivo. O que faz parecer que nada estará a sua altura, e por isso deixa de ser capaz de fazê-la feliz, porque não chega nem perto de ser o que ele é. Porque tudo se torna tão pequeno, que parece não haver mais graça, porque parece ser necessário que ele esteja sempre ali, chega ser inconformável que tenha sido tão breve, breve demais para poder ser esquecido. Um instante breve onde ele esteve ali, incapaz de reparar que ela também estava ali, incapaz de reparar no amor que havia naquele momento, que se foi. Acabou. Mas que surte um efeito que jamais acabará.
Agora, tomava consciência de que estava vivendo em um mundo de fantasia.

Podia


Podia tudo acabar ali, naquele lugar, naquele momento, daquela maneira. Nada mais tinha importância, só o aqui e o agora. Não havia mais ninguém ali, não havia nada demais. Mas, havia tudo. Não precisava de mais nada, pois nada já bastava. Não estava com tudo resolvido,mas nem precisava. Não sentia mais, mas ainda havia o amor, estava frio, mas não havia frio. Tinha tristeza, mas a sensação era a de recordação, saudade. Era a de poder ser triste, de poder estar feliz. De poder confundir. Não precisava ter feito nada. Já possuía o que precisava. Se dispersava.. Não se percebia mais. Perdia o controle, assistia, não encenava por conta própria. N verdade nem sabia mais o que fazia, e nem precisava. Precisar, isso, é exatamente isso, não precisava mais, portanto não se obrigava mais, não tinha que ter, fazer, ser. Podia deixar de ter, de ser, de fazer, podia moldar-se, criar-se e não ser criada, moldada, mas fazê-lo. Podia, exatamente, podia, não devia obrigatoriamente fazê-lo, mas podia, escolhia, queria. E saber disso já bastava. Só por saber disso, já havia conquistado o que nem sabia, o que nem precisava, o que nem pedira, o que nem se imagina.
E então, podia tudo acabar ali. Simplesmente podia. Não necessariamente deveria, mas podia, e só por poder, se acabava.